Escrever para explicar

Quem nunca enfrentou o desafio que é explicar para sua tia querida, naquele almoço de domingo, o que é a sua pesquisa. Pense no dilema de não saber por onde começar; porque está fazendo aquilo; quais as implicações. Afinal o que é aquilo a que tanto se dedica?

Muitas pessoas têm domínio do seu problema de pesquisa e sao capazes de explicá-lo, mas outro tanto de pessoas não. Imagino que essa dificuldade está relacionada com o trabalho demandado pela pesquisa. É necessário revisar a literatura, identificar um problema, definir uma metodologia, descobrir se há dados para essa aplicação, organizar os dados, revisar erros, interpretar os resultados, escrever, revisar, editar, formatar…

Cada uma dessas etapas é recheada de desafios próprios que, na hora de contar a história para sua querida tia, não farão a menor diferença. Tenho me esforçado para aprender e aprimorar técnicas de comunicação em pesquisa. Quando digo comunicação em pesquisa, leia-se: escrita. Lógico que há inúmeras formas de comunicação em ciência e elas têm se multiplicado (o que é muito bem vindo), mas meu foco, nesse momento, será a escrita científica.

Escrever vai além da escrita em si

Minha última aula de redação foi na escola, no ensino médio. Na época, a aula consistia em escrever uma redação de 30 linhas nos 50 minutos de aula, referente a um tema proposto pela professora. O objetivo desse exercício era treinar para o vestibular. Na aula seguinte, a professora devolvia a redação, dava algumas dicas e nunca mais se tinha notícia daquele texto.

Nos últimos anos, tenho confrontado minhas dificuldades de escrita. Passei a acompanhar blogs (de escrita em geral e científica). Também fiz alguns cursos mais específicos que foram disponibilizados durante a pandemia (mais a frente especifico). O que todo esse material reforça é que a escrita não pode ser um ponto isolado no tempo, nem uma epifania que brota depois de tanta leitura. É um processo consciente, metódico e com objetivos estabelecidos.

Obviamente, há pessoas que tem mais facilidade e já possuem um método próprio, lidando bem com o processo. Apesar disso, o acadêmico médio tende a ser mal treinado, como eu fui.

O que alguns blogs e cursos que tenho acompanhado ensinam é que escrever nem é a parte mais importante do processo. Revisar é. Revisar inúmeras vezes. Revisar depois de ficar um bom tempo sem tocar no texto. Revisar através de terceiros (amigos, familiares, colegas, professores…). É como todo almoço de família que você tenta explicar a sua pesquisa para sua tia querida. Nesse processo, um jeito mais acessível é construído. Até onde tenho entendido, com a escrita é a mesma coisa.

O problema é que fazer inúmeras revisões e coisas do gênero, demandam tempo. O que leva a outro elemento mais importante que a escrita: o planejamento. Eu sei, é difícil planejar algo que nem se sabe direito o que é. Mas é possível estabelecer algumas datas e definir algumas categorias: pesquisa, leitura, reflexão, escrita, revisão… Depois, quando for desbravar cada uma dessas categorias, você pode subdividi-las. Por exemplo, a pesquisa pode ser referente à temática, à metodologia, ou ao contexto. Se você está fazendo um trabalho de longo prazo (como monografia, dissertação ou tese) também pode criar uma estrutura de sumário (essa dica foi do meu orientador) e vai guiando as leituras a partir dele.

Apenas escreva

Todo o material que tenho consultado menciona que: quando for escrever, escreva. Você pode planejar e pensar o que vai escrever em um determinado momento; pode fazer um mapa mental, ou um esboço de uma estrutura; mas, quando for escrever, foque em colocar o máximo de palavras, atendendo aos objetivos que você definiu no planejamento anterior.

É a simples divisão de tarefas. O foco é escrever sem se preocupar em escrever alguma bobagem, ou em cometer algum erro gramatical. Esses ajustes serão feitos na hora da revisão. O que ajuda a perder o medo da escrita. Há quem recomende, inclsuive, escrever um primeiro rascunho só para jogá-lo no lixo (Como este blog que comecei a seguir faz um tempo). Desbloqueando as ideias e se sentindo mais seguro.

Há uma série de técnicas e estratégias que podem e devem ser usadas. Hoje em dia há bastante material na internet falando a respeito, mais adiante deixo algumas que tenho utilizado e recomendo.

É importante ter a consciência de que escrever também é comunicar-se e aperfeiçoar essa comunicação nos ajudar a ter uma maior compreensão das nossas próprias ideias e de como elas podem chegar ao outro.

Sugestões em português

Sugestões em Inglês

  • Publication Coach: Ok, o nome não é dos melhores, mas a Daphne (autora do blog) é bem bacana e apresenta sugestões bastante pragmáticas. Já faz um bom tempo que assino a newsleter dela e sempre me ajuda a repensar minhas rotinas e minha escrita.

  • DoctoralWriting SIG: com textos de diversos autores, sempre trazem boas dicas sobre escrita acadêmica.

  • Writing in the science: Curso do COursera, acho que é possível fazer o curso gratuítamente sem certificado (foi assim que fiz). É um excelente curso que toca em vários aspectos das escritas acadêmicas. Sim, escritas, pois fala desde os artigos, quanto de cartas de recomendação, pareceres para revistas e twites para divulgação acadêmica.


Obs.: Deixo claro que nenhum dos links são patrocinados. As sugestões são com base no uso que faço dessas plataformas.